segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A meu ver, as sucessivas alterações nas regras do jogo - a partir do meio da década de 80 e, principalmente, no início da década de 90 -, levaram a implicações técnicas significativas. Esse breve texto se preocupa com a discussão, em linhas gerais, dessas implicações.

O Futsal, com as alterações nas suas regras(1), obteve uma franca evolução competitiva(2): o jogo é mais dinâmico e veloz e, por isso, exige dos jogadores um aprimoramento técnico sem precedentes na história do desporto. No que se refere à técnica - objeto de interesse deste texto - muito da nova maneira de jogar justifica-se, principalmente, pela evolução da habilidade desmarcação (ou finta, balanço, deslocamento), realizada sem bola, e muito utilizada no futsal. É fato: o jogador de futsal joga (e muito!) sem bola. Essa habilidade desequilibra o adversário, dificulta a marcação, facilita o recebimento de passes, projeta o jogador no espaço, abre espaços para outros jogadores e, com essas ações, propicia vantagens consideráveis para a performance da equipe.

Assim, os jogadores de futsal, que no passado desempenhavam predominantemente ações técnicas de sua posição específica - goleiro, fixo, ala e pivô - porque assim incitavam as regras - atualmente são obrigados, pela dinâmica do jogo - caracterizada principalmente pela rapidez e velocidade, movimentações constantes com e sem bola, mudanças constantes de posse de bola e intenso choque corporal(3) - a desempenhar ações técnicas diversificadas. Pode-se afirmar, guardadas as devidas proporções - como, por exemplo, o tipo de jogo ofensivo adotado pela equipe -, que o jogador de futsal joga, mesmo que momentaneamente, em várias posições no decorrer de uma partida.

As Alterações e as Implicações

Selecionei quatro alterações nas regras que servirão de objeto de análise para explicitar as possíveis implicações dessas na técnica dos jogadores de futsal:

1. Exclusão do arremesso (de canto e lateral) com o uso das mãos;
2. Inclusão do tiro livre direto (chute) sem formação de barreira(4);
3. As novas ações do goleiro;
4. A proibição do carrinho;

1. Exclusão do arremesso com o uso das mãos: Mussalem (1978) classificou em 07 os elementos da técnica individual (fundamentos) do futebol de salão, como era chamado o desporto na época: arremessos, controle, condução, passe, fintas, drible e chute. Destes, o arremesso - que nada mais era do que um passe com as mãos - não pode ser mais considerado como fundamento, pois, a partir de 1994(5) passou (o arremesso) a ser executado com os pés (regras 16 e 18). Vários autores(6) ratificam em suas obras esse fato.

Com a exclusão do arremesso com o uso das mãos e a inclusão do mesmo com o uso dos pés (apesar da contradição, pois quem arremessa o faz com as mãos!), outros fundamentos sofreram conseqüências, principalmente o cabeceio e o chute de voleio. Ambas as habilidades foram muito enfatizadas no jogo de futsal, sobretudo de 1990 - quando foi permitido o gol de dentro da área - até 1994 - quando excluíram o arremesso com as mãos. Muitos foram os atletas que se consagraram com gols de cabeça e de voleio. Vários foram os técnicos que, na época, contratavam para suas equipes especialistas nessas habilidades.

Todos sabiam que uma bola parada - onde o arremesso se encaixava - poderia definir jogos importantes. Bastava uma bola bem arremessada na área ou próxima a essa, para que um especialista no cabeceio ou no chute de voleio concluísse o tento. O fato é que com os pés, em geral, não é possível passar a bola com a mesma precisão das mãos. Se, no passado, no caso específico dessa ação, o jogador que cobrava o arremesso lateral e de canto executava até com certa facilidade passes à meia-altura e parabólicos - passes estes que proporcionavam o cabeceio e o chute de voleio (e semi-voleio) dos finalizadores - no presente, pela exclusão desta ação, não é proporcionada aos jogadores tal facilidade.

2. Inclusão do tiro livre direto sem formação de barreira: com o objetivo de coibir a violência, que historicamente sempre foi uma preocupação dos dirigentes de futsal(7), uma alteração foi incluída na regra 14 do desporto: a partir da 6a. falta acumulativa de cada equipe, todas as faltas (previstas na regra 12) são diretas, sendo vedada a formação de barreira. Com isso, surgiu no meio futsalonista uma implicação técnica e outra especialidade: os finalizadores de tiro livre. Muitos são os jogos decididos no tiro livre que, via de regra, acontece nos minutos finais dos períodos de jogo. Essa alteração na regra faz com que parte do treinamento seja destinada à cobrança de tiros livres diretos sem barreira, tanto dos 10 metros quanto próximos à área de meta.

3. As novas ações do goleiro: por conta das alterações nas regras do futsal, a posição que sofreu as maiores transformações na performance técnica foi a de goleiro. Esse, até entrarmos na década de 90, desempenhava exclusivamente funções defensivas. Fato ratificado na literatura(8) que classificou os fundamentos do goleiro em: pegada, queda lateral e salto, espalmar, lançamento, fechar o ângulo e saídas de gol. Relevante destacar que, desses, apenas o lançamento pode ser considerado ofensivo, pois na realidade trata-se de um passe com o uso das mãos onde o goleiro repõe a bola em jogo. Todos os outros têm características defensivas.

Contrapondo esse fato, de 1997 para cá, se permite ao goleiro: jogar fora da área, cobrar arremesso lateral, arremesso de canto, penalidade máxima, tiro livre direto e indireto, bola de saída(9). Ou seja, as alterações nas regras mudaram definitivamente a atuação do goleiro, que permanece como um exímio defensor, mas assume também funções ofensivas. Hoje, nas habilidades do goleiro, está incluído o Jogo de Quadra(10) - caracterizado principalmente pelo desenvolvimento dos fundamentos domínio, passe e chute. Vale registrar também o fundamento marcação, uma vez que o goleiro a fim de evitar defesas com as mãos fora da área e conseqüentes punições, deve desempenhar a marcação sobre o adversário, além de, outras vezes, atuar como um líbero na cobertura dos jogadores de linha.

4. Proibição do carrinho: a regra 12 (faltas e incorreções) determina que é falta técnica se o atleta se projetar no solo, deliberadamente, para, com o uso dos pés, tentar tirar a bola que está sendo jogada ou de posse do adversário. Essa alteração implica em que os jogadores desenvolvam a habilidade de marcar com maior equilíbrio e prudência. Não significa que não se lançarão ao solo - quantos gols são evitados por conta dessa ação! -, mas que devem evitar tal medida em direção ao adversário. Ou seja, os marcadores devem se lançar ao solo para cortar a trajetória da bola.

Essas são algumas reflexões sobre as alterações nas regras e suas possíveis implicações técnicas. Nessa direção, sinalizam para que o treinamento técnico atenda ao aprimoramento do passe, em situações específicas, como os laterais próximos á área de meta do adversário e os escanteios; do chute com a bola parada a partir dos 10 metros; do aprimoramento do jogo de quadra do goleiro e da orientação na habilidade de marcar, procurando assim atender as demandas táticas do treinador.

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(1) Ver Futsal: Metodologia do Ensino, EDUCS, 1997, do professor Gerard Mauricio Fonseca, pp.15-7.
(2) Ver A Ciencia do Esporte Aplicada ao Futsal, Sprint, 1998, do professor Nicolino Bello Junior, pp.123- 6.
(3) Ver Futsal: Iniciação Técnica e Tática - Sugestões para Organizar a sua Equipe, Ed. Da UFSM, 1997, do professor Michel Saad, pp.42-4.
(4) Segundo monografia de Carlos Frederico Vargas Scalassara (UEL, 1999), p.48, a partir de 1986, quando da 6a. falta acumulativa é vedada a formação de barreira.
(5) Ver Futsal: Metodologia do Ensino, ibidem.
(6) Ricardo Lucena, em Futsal e a Iniciação, Sprint, 1994, p.9; Rogério da Cunha Voser, em Iniciação ao Futsal - Abordagem Recreativa, Editora da Ulbra, 1996,p.; Wilton Carlos de Santana, em Futsal: metodologia da participação, Editora Lido, 2001, p.85; Nicollino Bello Junior, op.cit, pp-76-82; José Roulien de Andrade Junior, em O Jogo do Futsal Técnico e Tático, Gráfica Expoente, 1999, p36; e Antonio Carlos Gomes e Jair de Almeida Machado, em Futsal: metodologia e planejamento na infância e adolescência, Midiograf, 2001,pp-84-5.
(7) Tolussi, s/d.
(8) Ver Futsal - Futebol de Salão, Artes e Segredos (1994), do professor Daniel Mutti, pp. 61-78.
(9) Regras da Federação Paranaense de Futebol de Salão.
(10) Ver Futsal - Treinamento do Goleiro, Sprint, 1998, do professor Gerard Maurício Fonseca.